#02 | Esquentou, esfriou, vai esquentar de novo
Como países e cidades podem se preparar para o calor extremo
Com uma onda de calor para fechar o inverno de 2023, São Paulo registrou o setembro mais quente dos últimos 80 anos. Outras cidades no Brasil, como Curitiba, Cuiabá, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, bateram recordes de temperatura.
Enquanto isso, França, Alemanha e Reino Unido tiveram o setembro mais quente da história. Ou seja, não é só uma impressão pessoal (de todos em todo lugar ao mesmo tempo) de que os dias estão mais quentes.
O friozinho que deu uma trégua na região Sudeste também não é muito animador — em outubro, de acordo com o Climatempo, as temperaturas podem ficar de 2°C a 3°C acima da média esperada para o período.
As razões para o calor extremo já foram bastante atribuídas à soma entre o El Niño que se formou e as consequências de um planeta mais quente. Em comparação a níveis pré-industriais, a temperatura média da Terra aumentou 1,1ºC.
Por isso, com o Acordo de Paris como guia, as discussões sobre reduzir as emissões de gases de efeito estufa são sobre tentar limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC e mantê-la bem abaixo de 2ºC. Mas as ações práticas — ou a falta delas — mostram que a humanidade caminha em direção a um planeta 3ºC mais quente.
Ainda dá tempo de evitar o pior cenário? Dá. ⏳
O fato é que existe uma alteração no clima do planeta. E seja cada onda de calor, cada ciclone e cada seca consequência direta do aquecimento global ou não, os efeitos de um clima extremo estão aí. Também está cada vez mais claro que é preciso preparar melhor as cidades para a realidade que se impõe para as pessoas.
No Nosso Impacto, mostramos quais medidas podem ser implementadas para promover a adaptação ao calor extremo. Há ações imediatas, como instalar abrigos de proteção ao Sol e bebedouros públicos, e outras de longo prazo. Plantar árvores é o básico, apesar de ser uma tarefa complexa dentro da escala necessária.
Na reportagem linkada no parágrafo anterior (só para garantir, é este link aqui), me chamou a atenção a comparação que o arquiteto Pedro Vada fez com a ideia de reconquista dos territórios pelas áreas de várzea. A narrativa de guerra entre natureza e humanidade é comum em filmes e livros que mostram o apocalipse após os exageros da civilização.
Em uma cidade como São Paulo, quem ou o que formaria a guerrilha para plantar árvores nas margens dos rios Pinheiros e Tietê? Ativistas? Drones? Funcionários públicos? Todos juntos? Só sei que, quando li a frase do arquiteto sobre “a boa sombra e água fresca", só consegui pensar em Rita Lee, uma verdadeira defensora dos animais e do meio ambiente e que muito provavelmente lideraria esse exército.
Além da matéria sobre a adaptação ao calor extremo no Brasil, falamos também sobre os impactos das altas temperaturas em outros países. 🌍
As consequências mundo afora são igualmente chocantes. Uma pesquisa publicada pela revista científica Nature Medicine mostrou que o verão de 2022 matou mais de 61,6 mil pessoas na Europa entre maio e setembro.
Ao mesmo tempo, há iniciativas que mostram o esforço de adaptação: o Peru, por exemplo, reservou 1 bilhão de dólares para lidar com as consequências do El Niño; as Filipinas montaram uma equipe especial do governo para lidar com os riscos de ciclones na região.
Ainda há uma longa maratona pela frente que precisa ser percorrida como se fosse uma disputa de 100 metros. Talvez eu acabe me tornando repetitiva por aqui, mas o ponto principal é: há muito trabalho a ser feito e dá tempo de fazê-lo para evitar consequências maiores para as pessoas e, principalmente, para os mais vulneráveis aos efeitos da mudança do clima.
Por fim, o apanhado do conteúdo sobre as ondas de calor está no nosso podcast — se você chegou até aqui, segue mais um pouco com a gente. São só cinco minutos!
* Enquanto esperamos para ver o que acontecerá de diferente ou não na próxima onda de calor, a Amazônia enfrenta uma seca que compromete o abastecimento de água e a locomoção. Em Tefé, cidade no Amazonas, mais de cem botos — entre tucuxis, os cinzas, e vermelhos, como o da foto — foram encontrados mortos no Lago Tefé. O motivo exato ainda é um mistério, e a suspeita cai sobre a seca, o calor e até a proliferação de algum patógeno na água. A foto abaixo foi feita em 2014 no contexto de outra ameaça ao animal — a caça ilegal para o uso da carne do boto como isca na pesca da piracatinga. Ambos os botos estão na lista vermelha da IUCN de espécies ameaçadas de extinção.